Sobre a glória de chorar

                                                                                                   Sobre a glória de chorar

 

Sempre me intrigou a não aceitação da derrota no futebol. Claro, do ponto de vista da explosão emocional momentânea, entendo ser absolutamente normal e até saudável, mas, passada a catarse de um jogo, por exemplo, para mim, seguir com a raiva e intolerância é flertar com a irracionalidade, com a ignorância.

Não foi uma única vez que vimos grupos de torcedores reivindicarem o rebaixamento de seus clubes de coração com violência. Agressão a jogadores, depredação de estádios, das sedes dos próprios times, brigas em ruas... uma série de lembranças e memórias que seriam melhores se não existissem.

Pego-me a pensar o quanto falhamos enquanto seres humanos, enquanto sociedade, já que não conseguimos compreender a derrota, a queda, como parte normal, edificante e natural de nossa vida.

Por que não aceitamos que o nosso time seja rebaixado, por exemplo, mas o adversário sim, ele pode? A que nível de egoísmo e soberba chegamos quando pensamos que: o que eu penso, para quem eu torço, é maior, melhor, ou mais importante do que o que pensa e sente o outro?

Lembro-me dos versos da banda Los Hermanos na música "O vencedor", em que se reflete que "quem sempre quer vitória, não conhece a glória de chorar". Como é bom permitir-se à humanidade de chorar, de entregar-se à essência máxima humana que é o sentir.

Para o Sistema sim é importante a cultura da vitória a todo custo, a superioridade em relação ao próximo como maneira de imposição social. Que triste é pensar uma sociedade que prega até de maneira religiosa o irmanar-se, embora, por outro lado, alimente a disputa como alimento de alma.

Ao ver a quantidade de ofensas em função dos mais distintos fins,  a jorrarem cada vez mais sórdidas nas redes sociais, as postagens egoístas e narcisistas que focam em se mostrar uma vida superior à do próximo, fico pensando onde foi que se perdeu o valor da humildade, do companheirismo, da cumplicidade, do amor a esse próximo. Não falo aqui do amor ao próximo pregado, mas daquele de fato vivenciado.

Aprendi com Rocky Balboa, ainda na minha infância: a vida bate forte e sempre haverá de nos derrubar. Porém, no decorrer da travessia, não importa quantas vezes você cai, o importante é quantas vezes você consegue se levantar. Força sempre.

 

Mário Afonso Pontieri é professor de Literatura, jornalista esportivo

                        
                                                                                                                                                                                               


                                                                                                                                                                                                                            

Categoria:Crônicas

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Antonina - 16/10/2021 17h23
Mario , concordo com seu bontito texto.Acrescento que as pessoa , em grande maioria têm um lado perverso, mesquinho e até cruel.. Essa faceta se faz presente nos momentos da derrota.Fomos treinados a vencer.: os medos, as dificuldades..Há uma tendência natural de rejeitar e saber lidar com o fracasso..Lamentável.